O que podemos esperar de prebióticos ou posbióticos tópicos?

  • 20min
  • Mai. 2022
  • Desenvolvido por
  • La Roche-Posay

Pesquisas demonstraram que o microbioma da pele é uma nova e eficiente maneira de combater alguns problemas de pele, tais como a dermatite atópica, acne e a psoríase.

A aplicação de prebióticos (ou seja, de ingredientes que estimulam seletivamente o crescimento e/ou a atividade de bactérias nativas) ou posbióticos (ou seja, fração solúvel intracelular secretada pelas bactérias não patogênicas) na pele, tem sido relatada como uma interessante abordagem terapêutica para modular ou equilibrar o sistema imunológico e manipular a diversidade do microbioma cutâneo.1,2

Nota:
Prebióticos: ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, estimulando seletivamente o crescimento e/ou atividade das bactérias.
Posbióticos: fração solúvel intracelular secretada por bactérias vivas ou liberadas após a lise bacteriana, subprodutos metabólico de probióticos que têm uma atividade biológica no hospedeiro.1,2



Por que nos focamos na biomassa da Vitreoscilla filiformis?


A Vitreoscilla filiformis (Vf) é uma bactéria aeróbica, gram-negativa, não patogênica, não fotossintetizante, que pertence ao gênero Beggiatoa.3,4

É uma bactéria transparente filamentosa — seu nome vem de sua morfologia — isolada no Lago Erie, um lago na América do Norte.3-5

Ela pertence a um grupo de espécies de bactérias presentes naturalmente em águas termais e que tem sido historicamente usada no manejo de doenças de pele crônica inflamatória.4 Subsequentemente, a Vf foi cultivada em escala industrial por mais de vinte e cinco anos, com objetivo de gerar um lisado bacteriano e utilizar em produtos de cuidados para a pele, como, por exemplo, os emolientes.4,5

A biomassa de Vf tem sido pesquisada em vários estudos clínicos.

Em 2006, um primeiro estudo clínico mostrou que o tratamento com uma pomada contendo 5% de extrato de Vf melhorou significativamente os sintomas de dermatite atópica.6
Em 2008, um estudo feito em 75 homens e mulheres até 70 anos de idade com DA leve, demonstrou que a aplicação duas vezes ao dia de um creme contendo 5% de lisado de Vf reduz a presença de espécies de S. aureus (-29,6%), Streptococcus e cepas de E. coli (-14,8%).3

Biomassa da Vf: como funciona?


Em 2013, foi conduzido um estudo para investigar os mecanismos da eficácia da biomassa de Vf na dermatite atópica. Esse estudo demonstrou que o sinal da Vf era transmitido com sucesso pelas células abaixo da superfície da pele, uma observação que contraria conceitos convencionais sobre as propriedades da estreita barreira epidérmica, mas consistente com observações recentes que mostram influência da penetração do microbioma na derme e a existência de equilíbrio da barreira epidérmica. Adicionalmente, os autores mostraram que induz a maturação das células dendríticas IL-10+, o mecanismo que necessitam de receptores Toll-like 2 (TLR2) para a produção de IL-10.7,8

Tanto o teste in vitro quanto o in vivo mostraram que a biomassa da Vf estimula as defesas antioxidantes endógenas na pele: in vitro, estimulou a atividade do superóxido mitocondrial de queratinócitos no mRNA e nos níveis de proteínas através de um mecanismo ainda desconhecido, enquanto que in vivo, diminuiu os efeitos de queimaduras solares induzidas por ultravioleta na pele humana.4,5

Curiosamente, a biomassa da Vf não apenas estimula as defesas antioxidantes mitocondriais endógenas, como também as defesas antimicrobianas endógenas.4

Em suma, aciona fatores bacterianos exógenos, incluindo uma reação de defesa homeostática e proporciona uma barreira biológica protetora, que reforça a resistência cutânea e os mecanismos de defesa.4



Aqua Posae filiformis: procurando uma maior eficácia no microbioma da pele.


Aqua Posae filiformis é um lisado de Vf (biomassa de Vf) cultivado nas águas termais da La Roche-Posay (LRP-TSW), e que contém 2 elementos essenciais e exclusivos (selênio e estrôncio) atuando como catalisadores de enzimas bacterianas.

Além da eficácia da biomassa de Vf, várias publicações enfatizaram os efeitos da água rica em selênio na pele, protegendo contra os efeitos a curto e longo prazo de espécies reativas do oxigênio induzidas por radiação ultravioleta e minimizando inflamações e irritações.4

Adicionalmente, LRP-TSW contém seu próprio perfil bacteriano e demonstrou sua capacidade para aumentar algumas concentrações de bactérias e/ou de manter um equilíbrio mineral específico, promovendo o metabolismo e o desenvolvimento de certas bactérias; isso pode ser chamado de “o efeito prebiótico LRP-TSW”.9

Adicionar água termal rica em selênio e estrôncio à cultura de Vf leva a uma biomassa com uma capacidade similar a ativação de superóxidos mitocondriais, porém mais intensificada. A nova biomassa estimulou a expressão de mRNA de maneira mais poderosa para peptídeos antimicrobianos e outros mecanismos de defesa imune inatos através da ativação da TLR2 na epiderme reconstruída.2,4,5

Mais ainda, uma fonte de carbono específica, a manose, conhecida por impulsionar o crescimento da família Xanthomonadaceae, foi associada ao APF para aumentar sua eficácia.1



Interesse do APF: evidências clínicas recentes na DA


Em um estudo duplo-cego, randomizado publicado em 2017, com 60 pacientes com DA moderada (SCORAD = 21± 8) comparou um emoliente contendo APF com um emoliente sem APF.1

Foi demonstrado que o APF é capaz de normalizar o microbioma cutâneo e reduzir os sintomas da DA por até um mês após o final do tratamento de maneira mais eficaz que o outro emoliente.1

Pela primeira vez, o estudo demonstrou que a aplicação tópica de um posbiótico associado a um prebiótico é uma abordagem terapêutica interessante que modula ou equilibra o sistema imunológico. Logo, promover a normalização do microbioma cutâneo pode ser benéfico em várias doenças de pele mediadas pelo sistema imunológico, DA e outras doenças de pele inflamatórias crônicas como a acne, a rosácea e a psoríase.1

Bibliografia

  1. Seité S., Zelenkova H., Martin R. Clinical efficacy of emollients in atopic dermatitis patients – relationship with the skin microbiota modification. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2017;10:25–33.
  2. Baldwin H.E., Bhatia N.D., Friedman A. et al. The Role of Cutaneous Microbiota Harmony in Maintaining a Functional Skin Barrier. J Drugs Dermatol. 2017;16(1):12–8.
  3. Gueniche A., Knaudt B., Schuck E. et al. Effects of nonpathogenic gram-negative bacterium Vitreoscilla filiformis lysate on atopic dermatitis: a prospective, randomized, double-blind, placebo-controlled clinical study. Br J Dermatol. 2008;159:1357–63.
  4. Mahe Y.F., Perez M_J., Tacheau C. et al. A new Vitreoscilla filiformis extract grown on spa water-enriched medium activates endogenous cutaneous antioxidant and antimicrobial defenses through a potential Toll-like receptor 2/protein kinase C, zeta transduction pathway. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2013;6:191–6.
  5. Contreras S., Sagory-Zalkind P., Blanquart H. et al. Complete Genome Sequence of Vitreoscilla filiformis (ATCC 15551), Used as a Cosmetic Ingredient. Genome 2017;5(34): e00913–7.
  6. Gueniche A., Hennino A., Goujon C. et al. Improvement of atopic dermatitis skin symptoms by Vitreoscilla filiformis bacterial extract. Eur J Dermatol. 2006;16(4):380–4.
  7. Nakatsuji T., Gallo R.L. Dermatological Therapy by Topical Application of Non-Pathogenic Bacteria. J Investig Dermatol. 2014;134:11–4.
  8. Volz T, Skabytska Y, Guenova E et al. Nonpathogenic bacteria alleviating atopic dermatitis inflammation induce IL-10-producing dendritic cells and regulatory Tr1 cells. J Invest Dermatol 2013;134:96–104.
  9. Martin R., Henley J.B., Sarrazin P., and Seite S. Skin Microbiome in Patients With Psoriasis Before and After Balneotherapy at the Thermal Care Center of La Roche-Posay. J Drugs Dermatol. 2015;14(12):611-6.